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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Entrevistas com diversos escritores

- Tatiana Belinky
- Heloisa Prieto
- Fanny Abramovich
- Ruth Rocha
- Ivana Arruda Leite
- José Mindlin


Entrevista com Tatiana Belinky.

A história de vida de Tatiana Belinky é tão emocionante quanto os livros que ela escreve para as crianças. Nascida na Rússia (, poliglota e escritora desde sempre, chegou ao Brasil aos 10 anos, fugindo com a família das mazelas da guerra civil provocada pela revolução comunista que, em 1917, fez nascer a antiga União Soviética. Seu primeiro livro infantil, Limeriques (Ed. FTD), foi publicado em 1987. Hoje aos 89 anos, ela continua escrevendo – à mão, com uma caligrafia que não envelhece com o passar do tempo.
Como estimular a leitura entre crianças de até 3 anos?
Não fico me preocupando com a idade. Escrevo o que me dá vontade naquele dia, e a faixa etária que me escolha. Mas o fundamental é ler histórias, ter sempre muitos livros por perto e cantar. Música é fundamental, mas tem de ser de qualidade. É por isso que, no mundo inteiro, existem as músicas de acalanto. Elas são feitas para assustar, mas a letra não importa. A criança ouve a voz da mamãe e, em seguida, dorme muito bem.
Qual é o significado da fantasia no universo da criança?
A fantasia é tudo. Sempre digo aos pequenos que o livro é um objeto mágico, muito maior por dentro que por fora. Por fora, ele tem a dimensão real, mas dentro dele cabe um castelo, uma floresta, uma cidade inteira... Um livro a gente pode levar para qualquer lugar. E com ele se leva tudo.
Por que os contos acumulativos – aqueles em que, sucessivamente, se vão acrescentando novos elementos – funcionam tão bem com os bebês?
Todo mundo gosta de repetição, inclusive as crianças, porque fica mais fácil de memorizar. Quem gosta demais de alguma coisa sempre quer experimentá-la de novo. Isso vale para tudo: do prato que você não se cansa de pedir no restaurante ao livro que a gente lê e relê inúmeras vezes.
Livro infantil que se preza deve ter “moral da história”?
Não gosto disso. Uma vez, a dona Benta contou uma história cuja moral era “fazer o bem sem olhar a quem”. A Emília discordou: “Para os maus, pau!”. Que me desculpe a Capitu (personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis), mas a Emília é a mulher mais inteligente do Brasil! E, além de tudo, é mágica!  Eu queria ser mágica. Queria ser uma bruxa. Mas bruxa bonita, como a madrasta da Branca de Neve.
Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.


Entrevista com Heloisa Prieto.

Heloisa Prieto foi criada sob duas fortes influências: a do pai, de origem espanhola e sempre cercado de livros; e a da mãe, baiana mais afeita à tradição oral, apreciadora de histórias contadas em volta da fogueira. Como educadora e escritora, Heloisa levou a síntese desses dois mundos até o público infantil, em livros que se transformaram em sucessos de venda, como O jogo da Parlenda (Ed. Companhia das Letrinhas). Nesta entrevista, a autora fala da importância da literatura desde cedo na formação de uma criança.
Por que você considera importante estimular o gosto pela leitura em crianças que ainda não sabem ler?
Porque é fundamental que elas travem contato com os livros desde cedo, sintam as texturas, acostume-se a manuseá-los, mesmo sem ler. É dessa forma que as crianças se apropriam das várias possibilidades do livro e acabam fascinadas por ele.
Qual é a melhor maneira de incentivar a leitura nessa fase?
Expondo a criança ao livro, deixando-a absolutamente livre para escolher. É um equivoco o adulto querer nortear a leitura infantil, decidir o que é bom e o que é ruim, dizendo “este livro não serve, não é para a sua idade”. Outra coisa importante é o livro brinquedo. Ele educa o olhar, a atenção. Em casa, é importante respeitar as “leis do leitor”: ler o que quiser, amar ou detestar um livro, ler o mesmo título um monte de vezes, começar pelo meio, não terminar, ler o fim antes...
O que o professor pode fazer para que a leitura seja um momento de prazer, mais do que uma atividade escolar?
É errado perguntar para a criança o que ela entendeu da história, pois a literatura potencializa muitas leituras. Melhor é perguntar se a criança quer contar a história para ele. Do que ela gostou? O que detestou? O professor deve ser, ele próprio, um leitor.
Alguns pais acham que certos contos de fadas são apavorantes demais, inapropriados para crianças dessa idade. Falar sobre o medo é importante?
É fundamental, pois nessa faixa etária o medo é mais intenso. Quanto mais ele é reprimido, mais a criança sente. O livro ajuda a lidar com essa emoção.
Professores têm receio de trabalhar com livros cujos personagens são assustadores?
Sim, muito. Acho que é uma reação à violência. A tendência é nega-lá, quando o correto é nomeá-la. A criança sabe que há perigos, não adianta negar. Mas sem sadismo, nem banalização.
 Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.
 

Entrevista com Fanny Abramovich.

Mais de 40 títulos para criança e adolescentes estão no currículo da escritora Fanny Abramovich, que também já esteve “do lado de cá” da sala de aula: ela foi professora de Educação Infantil e arte-educadora por mais de 30 anos. Seus primeiros livros instigavam professores a repensar seu papel, como em Que raio de professora sou eu (Editora Scipione). Hoje, no entanto, é ficção o que ela mais gosta de escrever.
Como estimular a leitura entre crianças de 7 a 9 anos?
Contar histórias com paixão e não forçar a barra são formas de estimular a leitura. Muitos alunos meus, de 40 anos atrás, já me encontraram pela vida e ainda lembram do jeito como eu contava histórias. Eles não esquecem porque isso os marcou. Ler não pode ser hábito, tem de ser vício. E contar histórias, ler para as crianças, ajuda a “viciá-las”.
Por que nessa idade histórias de terror fazem tanto sucesso? O que exatamente mobiliza o interesse delas por esse tema?
Não acho que sejam apenas histórias de terror que interessam as crianças nessa faixa etária. Elas gostam de ler histórias engraçadas, tristes, de suspense, de comedia... O que realmente as prende é a emoção. Mas os monstros representam o medo das crianças, e talvez por isso algumas gostem tanto desse gênero literário.
A criança dos anos 1970 não é a mesma de hoje. O que mudou? O que elas liam há 30 anos? Lia-se mais naquela época?
Boas histórias atraem as pessoas através dos tempos. Não me consta que as pessoas deixaram de gostar de histórias da Bíblia ou de fadas. E não acredito que apenas as crianças leem menos. No sistema escolar, quem esta lendo menos são os educadores. E eles influenciam bastante a leitura junto a garotada. Hoje criam-se salas especiais de leitura, com professores especializados, cursos de mediação de leitura e mais uma série de recursos. Nesse processo, aquilo que era uma  “simples gostosura” – sentar no chão e contar histórias – acaba se perdendo.
O que mais atrai em sua obra?
Meus livros fazem sucesso porque são engraçados, não tem lição de moral e são escritos em linguagem coloquial. Mas faz apenas dez anos que escrevo para o público infantil. Antes, eu escrevia para jovens e, antes ainda, para educadores. Escrever para crianças não é fácil. É preciso ritmo e poesia, além de saber contar uma história com poucas palavras.
Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.


Entrevista com Ruth Rocha

Aos 77, anos a paulistana Ruth Rocha ainda faz muita criança se apaixonar pela literatura. Ela é a autora do clássico Marcelo, Marmelo, Martelo (Ed. Salamandra), um fenômeno editorial que já ultrapassou a marca de 1 milhão de cópias vendidas. Mas sua obra vai muito além. Com mais de uma centena de livros publicados e prêmios importantes no currículo, Ruth já tem dois novos títulos saindo do forno: Solta o Sabiá ( Ed. Companhia das Letrinhas) e Quem Tem Medo do Novo ( Ed. Global).
O que fazer se uma criança, aos 10 anos, não demonstrar qualquer interesse pela leitura?
O primeiro passo é descobrir se ela realmente entende o que anda lendo. Muitas vezes o título não é adequado à sua capacidade de interpretação. Nesse caso, o ideal é partir para a leitura de textos curtos ou pequenos trechos de histórias mais longas.
O que você acha do estímulo à leitura por meio de atividades lúdicas?
Concordo desde que as propostas sejam desenvolvidas com inteligência e não transmitam a ideia de que a folia e o divertimento tem um papel maior do que a própria leitura. Além disso, os professores deveriam ler os livros infanto-juvenis antes de indicá-los aos alunos.
Qual é o segredo do sucesso de Marcelo, Marmelo, Martelo?
Se eu soubesse, faria todos como ele! O que sei é que um bom livro precisa ter verdade, propor novas questões e fazer o leitor pensar. Nunca escrevo porque tal assunto pode agradar ao público infantil, mas sempre preocupada em contar uma boa história e ser fiel aos meus valores.
Você publicou muitas adaptações de clássicos. É difícil falar a língua das crianças nesse gênero literário?
Dou um tom mais infantil à obra, mas não fico tentando buscar palavras que sejam mais fáceis. O livro também é uma forma de enriquecer o vocabulário, e a adaptação precisa respeitar o original.
A internet ajuda ou atrapalha o desenvolvimento da leitura?
 Essa tecnologia é muito nova e acho que ainda não se encontrou uma linguagem adequada para ela. Por enquanto, utiliza-se muito a rede para fazer pesquisas, sem saber como fazer isso, porque ninguém ensina. Os alunos copiam e colam no trabalho escolar qualquer bobagem. Outro problema é saber se as informações veiculadas são fidedignas. Nesse sentido, o livro é mais confiável.

Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.
Entrevista com Ivana Arruda Leite.

A escritora e socióloga Ivana Arruda Leite não tem medo de assuntos supostamente polêmicos. Para ela, temas como racismo, violência e desigualdade social não só podem como devem estar presentes na literatura juvenil. Primeiro, para formar a opinião crítica do jovem. Depois, para não fazer do livro uma bolha, completamente isolada do mundo real. Autora de dois grandes sucessos – Confidencial: Anotações Secretas de Uma Adolescente (Ed. 34) e Elas (Ed. Callis) -, nesta entrevista ela diz como atrair a atenção dos jovens e fala do papel da internet na formação de leitores.
Como despertar o interesse de jovens entre 13 e 15 anos e atraí-los para a leitura?
É preciso mostrar que a literatura também pode ser jovem, não é coisa apenas de gente velha. Daí a importância de temas que tenham a ver com o universo deles. Também é importante que o livro reflita a realidade que os cerca. Não há por que evitar assuntos como racismo, por exemplo. Assim, o jovem cria bases para formar sua própria opinião.
Essa faixa etária demonstra grande interesse por livros em forma de diário. Por que?
Pela proximidade da narrativa. Quando eu era adolescente, adorava diários, essa voz falando comigo. Meu livro Confissões tem esse formato e fez muito sucesso. Esse tipo de texto é sempre leve, gostoso de ler. E traz histórias de paqueras, brigas com a mãe... enfim, tudo que o jovem quer ler.
Quais são os elementos essenciais que uma obra literária deve ter para chamar a atenção dessa turma?
O importante não é o livro ser bom, mas criar-se o hábito da leitura desde criança. Não é preciso tornar o livro uma deliciosa guloseima. Compare a literatura com o cinema: quantos filmes ruins a gente vê? E por que também não podemos ler livros ruins? Se o hábito está incorporado, não importa o que a criança tem nas mãos: ela lê. Depois decide o que é bom e o que é ruim.
Você tem um blog, forma de comunicação muito popular entre os jovens. O que você acha desse tipo de leitura?
Acho que os blogs são positivos e podem funcionar como um chamariz para a leitura. Os jovens leem um texto ali, gostam e vão atrás do livro. Facilita o acesso, sem contar que essa é a linguagem deles. Eu adoraria poder ter lido blogs na minha adolescência.
Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.


Entrevista com José Mindlin

Dono da maior biblioteca particular da América Latina, o empresário José Mindlin é uma das raras pessoas no mundo que ganharam fama por causa da paixão por livros. Ele calcula já ter devorado cerca de 7 mil obras literárias ao longo dos seus 93 anos de vida. E, mesmo com a visão enfraquecida pela idade, não cogita abandonar esse prazer. Prepara-se para começar a sexta leitura dos sete volumes de Em busca do Tempo Perdido (Ed. Jorge Zahar), clássico do francês Marcel Proust. E conta com a ajuda de bibliotecários, que leem em voz alta para ele.
Como levar um adulto a adquirir o hábito da leitura?
Não há uma receita infalível. Em primeiro lugar, é fundamental facilitar o acesso das pessoas a livros. O bibliotecário tem um papel importante, mas o rádio e a TV precisam fazer mais propagandas sobre livros.
Transformar crianças em leitores é mais fácil?
O adulto que nunca leu é praticamente uma criança. O caminho é dar a ele um livro bem ilustrado. Uma adaptação de Os Três Mosqueteiros, por exemplo seria um ótimo começo.
Sempre é tempo de incentivar a leitura?
Sim. Ler é uma questão de catequese, e quem não lê nunca saberá o que está perdendo. O gênero literário é irrelevante. O importante é criar o hábito.
Mesmo que sejam livros de auto - ajuda, por exemplo?
Confesso que tenho certo preconceito com esse tipo de leitura, porque acho que esses livros acabam funcionando como uma bengala. Se precisar, tudo bem, desde que não se leia apenas isso. A boa leitura provoca a imaginação, desperta o sonho, coisas que essas obras não proporcionam.
Ler uma história em voz alta é uma boa forma de incentivar a leitura também para adultos?
O contador de histórias ainda é muito válido, nunca vai desaparecer. O livro une as pessoas. E a poesia, por exemplo, é ideal para ser lida em voz alta.
Qual obra o senhor indicaria para quem quer se iniciar nos prazeres da leitura?
Eu tinha um motorista que costumava me esperar horas a fio enquanto eu estava em reuniões. Um dia, perguntei-lhe por que não usava aquele tempo para ler, mas ele não soube responder. Dei a ele O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo. E ele virou leitor.  
Bibliografia:
Revista Nova Escola – Edição Especial nº 18 de Abril de 2008. – Leitura.


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